25/12/08

Lo peor del amor

Lo peor del amor cuando termina
son las habitaciones ventiladas,
el puré de reproches con sardinas,
las golondrinas muertas en la almohada.

Lo malo del después son los despojos
que embalsaman al humo de los sueños,
los teléfonos que hablan con los ojos,
el sístole sin diástole sin dueño.

Lo más ingrato es encalar la casa,
remendar las virtudes veniales,
condenar a la hoquera los archivos.

Lo peor del amor es cuando pasa,
cuando al punto final de los finales
no le quedan dos puntos suspensivos…


Joaquín Sabina

19/12/08

Tabacaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.


Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.


Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.


Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?


Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.


(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)


Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.


(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)


Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente


Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.


Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.


Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,


Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.


Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.


Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.


Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.


(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

30/11/08

Javier (VI)

París le recibió con las verdosas aguas del Sena discurriendo sin apremio frente a Notre-Dame. La Torre Eiffel emergía al oeste del VII Distrito reclamando a las nubes su lugar en el cielo y por los Campos Elíseos se deslizaban sobre cuatro ruedas las nuevas almas virtuosas de regreso al triunfo. La armonía de la ciudad mantenía un sabor a principios del siglo XX, pero las minifaldas parecían haber olvidado el Mayo francés, y a las boinas se había sumado la ropa ceñida y cara reconciliada con el comunismo. En los tejados, los gatos maullaban La vie en rose al ardor de chimeneas despojadas de donosura. Quedaba en el aire el recelo de aquel tesoro bohemio bautizado con el nombre de pobreza y en Montparnasse la calefacción y el agua corriente traicionaban el fulgor de la creatividad. El asfalto parisino rugía entre luces flotantes, las bocinas ambientaban la rutina de los gabachos y, en los cafés, los croissants desayunaban corbatas con zapatos a juego. La Ville lumière caminaba pendiente del segundero mientras, en el Louvre, la Historia juraba aliarse con Saturno. Tan sólo La Sorborna emulaba las antiguas creencias, templo de un saber medieval unido al espíritu bullicioso de la cultura.

Las aulas de la Paris IV-Sorbonne estaban recubiertas de madera tallada, que terminaba en encumbrados yesos pintados de bronce. Surcos y filigranas en memoria de una época gloriosa, ajena a las pestes y las guerras, donde los libros se protegían como inquilinos atemporales. Javier nunca había imaginado algo semejante: la perfección arquitectónica al servicio de la erudición. Era imposible no extraviar la atención recorriendo cada ribete, cada una de las pinturas que clamaban bajo las alocuciones de los catedráticos. Y el francés lo empapaba todo. Un habla exquisita, refinada, cimentada en chansons y grandes tratados.

Javier pasó dos años en París. Dos años que fraguaron buena parte de su carácter y le concedieron la perspectiva de que la soledad se revela como única compañera de viaje. Se había afincado en el barrio de Montparnasse. Su casera, Emilie Rajoux, regentaba una pequeña mercería en el centro de París y, aunque sus ingresos no eran excesivos, el alquiler del mentado piso le permitía llegar a fin de mes sin apuros. Soltera y sin hijos, Emilie relataba a quien quisiera escuchar las desgracias de su madre, Delphine Rajoux, una prostituta del barrio rojo de Pigalle que se había quedado embarazada de un conocidísimo pintor español. Sin embargo, la negativa del artista de reconocer a Emilie como hija había llevado a Delphine a la locura y, una mañana de enero, se había lanzado al Sena desde el Pont Louis-Philippe. Emilie contaba que el cadáver jamás había sido hallado y que por ello sabía que su madre la había protegido siempre, escondida en las alcantarillas de París. Emilie pronto se encariñó con Javier. Decía que era idéntico a su padre y que el gracejo de su rostro le recordaba a la expresión del pintor. Javier sentía un profundo afecto por Emilie, pero cada día que pasaba intuía con mayor certeza que su estancia allí sería pasajera. Los espejismos no duran más que un abrir y cerrar de ojos, de ahí su maravilla.

Durante el primer año, Javier terminó la carrera de Filosofía y Letras. Era un estudiante modelo, que participaba en clase y redactaba los exámenes con una corrección resplandeciente. Sus profesores le atendían con amabilidad, pero estableciendo ciertas distancias, y Javier agradeció ese trato inmensamente, ya que los estudios conformaban su única motivación. Javier respiró París como un visitante, no llegó a tejer su lecho junto a los cuerpos del Panteón ni a creerse un parigot. Disfrutó de paseos por calles que otros anhelaban, se instruyó en el arte y en la vida y, cuando obtuvo el doctorado, dio por fenecida su ambición, orgulloso de haberse acompañado en aquella peripecia.

13/11/08

Culpas y dudas

La niña me culpa por no haberlo sabido. Debía haberlo sabido... Yo era la madre, yo era la esposa, y debía haber sabido que el padre, que el marido... Nunca podré compensarla, sabe usted... Podría vivir hasta los doscientos años y aún así no tendría tiempo suficiente para compensarla.

Me culpa la niña, digo, pero lo cierto es que cuando sucede una cosa como ésta todo el mundo echa la culpa a la madre, por mucho que el daño, en sustancia, lo haya hecho el padre. Pero estoy segura de que todo el mundo implicado en la historia piensa que la culpa la tuve yo, que no vigilé, que no protegí o que sabía más de lo que decía saber. Pero yo no sabía nada, de verdad que no sabía nada. Y cuando yo me paro a pensar en la historia, siempre acabo pensando que la culpa de todo no la tuve yo, ni mi niña, desde luego la niña no... Y a veces , qué quiere que le diga, acabo pensando también que la culpa, además de tenerla el padre, la tuvo también el qué dirán, quizá sea por quitarle hierro al asunto o quitarle culpa a mi marido, porque es difícil odiar a alguien a quien se quiso y porque las dudas todavía me zumban por la cabeza, que a veces creo que me va a estallar... no sé, ni a mi peor enemigo le deseo dudas como éstas.

Lucía Etxebarria

11/11/08

Sin puntos ni comas

No somos siempre nosotros el bueno,
no tienen otros la culpa de todo,
la redención mata más que el veneno,
perfil de plata, borceguí de lodo.

Neuras y gritos y coches y aromas,
calles y cuerpos y noches y azares,
sigue corriendo, sin puntos ni comas,
sube al infierno, baja a los altares.

Perdí mi sueldo de bombero un día,
que, por jugar a echar troncos al fuego,
quemé los muros de la patria mía.

¿Cómo iba yo a saber que la hidalguía
era el pijama a rayas del talego
y la ambición, un perro policía?


Joaquín Sabina

29/10/08

Javier (V)

El padre de Javier, el Capitán Gervasio Aledo, era Capitán de la Marina de guerra. Javier lo recordaba desde niño vestido con su traje de oficial y, quizás por ello, solía asociar la figura paterna al dibujo que los cuatro galones perfilaban en la tela azul. Gervasio Aledo recibía el trato de señoría por parte de su regimiento y esa era casi la misma disciplina que había impuesto en su vida familiar. Nunca había proferido muestras de afecto a su único hijo, lo que contrastaba con la afable actitud que Celia Mena, su mujer, le consagraba. El matrimonio no había tenido más descendencia, a excepción de un embarazo fracasado que había precedido el nacimiento de Javier. Celia había conseguido sobreponerse a la pérdida y se había jurado que el pequeño recibiría también el cariño que no podría dar a la criatura que durante cinco meses había albergado en su vientre. Sin embargo, el carácter de Gervasio se endureció con el malparto y, maldiciendo a su esposa en silencio, se fue alejando de los sentimientos hasta formar un cuartel con aspecto de hogar. Javier supo del suceso mucho tiempo después, pasada la mayoría de edad y en el lecho de muerte de Celia Mena, quien le confió el secreto, y la razón del trato de su padre:

-No lo odies, Javier, tu padre no fue jamás así. Tienes que entender…, tienes que entender que para él fue muy duro. Era una niña, ¿sabes, hijo? Quería llamarla Julia, como tu abuela, pero Dios se la llevó. Yo siempre he pensado que lo hizo por algo, tengo fe en Él, y sé que tú le perdonarás y cuidarás de él cuando yo me vaya. Prométemelo, hijo, prométeme que no abandonarás a tu padre.

Javier asintió a la petición de su madre, pero la desventura le arrebató la oportunidad de reconciliarse con su progenitor: al fallecimiento de Celia Mena siguió el suicidio del Capitán Gervasio Aledo, presa de la culpa y los años desechados, alejado de la mujer que había conquistado una tarde de verano frente al mar, cuando el sueño de amanecer junto a ella era simplemente eso, un sueño.

La aventajada posición de la que había gozado durante su niñez le había proporcionado una excelente educación. Pese a que la base militar en la que vivían se hallaba en una ciudad de provincias, la presencia de la costa era un añadido a los planes académicos de los hijos de los oficiales. Javier acudía al puerto todos los domingos para adquirir las últimas novedades literarias llegadas de América y, en la base, se reunía con soldados y cabos, que le hablaban de las noticias internacionales y la situación mundial del momento. Las preocupaciones de Javier no se encaminaban hacia la Marina ni hacia el servicio al Estado, Javier quería viajar, ver mundo como hacían los hombres de su padre, pero sin rendir cuentas a nadie. Así que al verse solo y con una pensión que le garantizaba el sustento diario, se trasladó a París para continuar con la carrera de Filosofía y Letras. Poco antes de partir con destino a La Sorbona, Raúl Ledesma quiso despedirse de su buen amigo. Javier y Raúl se habían matriculado a la par en la universidad. El porvenir, por el contrario, les tenía reservadas sendas bien distintas.

-Decime, ¿qué buscás vos en París? No es para tanto. Haceme caso, no te miento –los intentos de Raúl por retener a su amigo no hacían sino aumentar su sonrisa.

-Eres un pelotudo, Raúl, un auténtico pelotudo.

Javier tomó un avión para desplazarse a París. Reparó a la entrada del aeropuerto, billete en mano, en que era la primera vez que viajaba en avión. “Pero, qué más da, Javier, vámonos de aquí”.

24/10/08

Santiago

Cuentan que ciertos olores tienen el talento mágico de filtrarse en la memoria, y que, cuando surgen de la nada (o de un Todo tan misterioso como el vacío), trasladan a quien los percibe a momentos y parajes que nunca podrán volver sino gracias a esa disposición antojadiza. En cambio, hay pocos lugares, aquéllos que no se asemejan a ningún otro, capaces de apoderarese por completo de los sentidos y colmar de emociones vidas sin cuya presencia serían demasiado insulsas. Es tal la fuerza que en ellos impera, que traspasan el límite de lo finito y descansan durante la eternidad en la delicada línea que separa el tiempo del espacio. Perduran atados al universo viendo correr las estaciones, mudan su piel según las modas, regalan aromas que sellarán el mapa de las palabras sólo dichas en susurros. Y Santiago, Santiago huele a piedra mojada.

Sus calles son surcos robados a la historia, tapizados con esa piedra única de bienvenida. Dibujan sobre la tierra secretos de antaño y, reflejo vítreo del cielo lloroso, desafían a la noche que las teñirá de luz artificial, mientras el granito juega con los tonos marrones que brillan en invierno y acogen el musgo amarillo de la edad. Las encrucijadas, las fuentes, las estrechas callejuelas, huyen hacia el esplendor abierto de una plaza milenaria custodiada por figuras cambiantes que se alimentan de calderilla. Suaves montes y un pico sagrado arrullan a la ciudad y pulen las flaquezas de los visitantes. Así la cumbre sacia los pulmones de gozo ante la visión de un puzzle perfecto. Sus gentes saben a voz popular, a relatos pintados al calor de la experiencia, a culturas que se funden y comparten el camino andado. Aquí, el bullicio canta entre cafés, cobijado al abrigo de estudiantes y escritores varados en el recuerdo, y, bajo los soportales, se resguarda la música del murmullo y la bohemia. Por las mañanas se reza a la frescura. Un pequeño auditorio sapiente madruga en ofrenda al comercio tradicional, porque el mayor tesoro que uno puede brindar es el otorgado en honor a la amistad. La memoria reciente tiene nombre de mujer y la forma de dos estatuas coloridas, las leyes frenan las profanas ansias locas de los edificios por tocar las nubes y el fuego se viste de fiesta. No hay mar que anuncie navegantes, pero existe una humedad que todo lo envuelve y amaina las penas. A menudo parece que el sol se negara a ocultarse, que desearía acurrucarse en el horizonte e iluminar la fachada de la fe hasta el fin de los días. Un pacto secreto con el calendario hizo especial a Santiago y, desde entonces, el mundo acude a descifrar el enigma. Sin embargo, lejos de cumplir dicho propósito, su embrujo pasa de generación en generación, contenido en conchas y dulces, sin hallar una explicación palpable que justifique ese peculiar deleite. Como espejismo frágil y efímero, Santiago alberga la puerta del paraíso, que olerá por siempre a incienso. Y a piedra mojada.

publicado en Santiagosiete, nº 82

21/10/08

Golosinas


Esta canción, Golosinas, se la hice a una novia. Compartíamos todos esos gustos. Además nos gustábamos mutuamente, lo cual era todo tan bonito...


Pedro Guerra

12/10/08

Madrid

Luisa descendió las escaleras pensando que en menos de una hora había cambiado para ella la forma de entender la vida. De repente encontró absurda su congoja, incomprensible su disgusto, y se avergonzó al recordar su reacción en la casa de Cósimo Herrera. La conversación con Macarena Altuna le había dado una luminosa perspectiva de todo aquel asunto. Llevaba en la mano la guía de Madrid, y sonrió pensando en el pobre Marcial, que había querido presentarle su futuro del modo más atractivo posible. Sólo unos minutos separaban la casa de la condesa de la calle de Todas las Almas, pero se demoró adrede para pensar. Cuando llegó a la puerta de su casa había tomado una decisión heroica: a primera hora de la mañana iría a pedir disculpas a Cósimo Herrera y a comunicarle su decisión de solicitar la beca. Luego se marcharía a Madrid. Desde la cubierta de la guía de viajes, un cielo azul y los surtidores de una fuente parecían darle un buen presagio. De pronto se llevó la mano al bolsillo y sus dedos tropezaron con algo que no tardó en identificar: era el pañuelo oloroso a lavanda que Cósimo le había tendido aquella tarde para ayudarle a controlar el caudal de lágrimas.


Marta Rivera de la Cruz

3/10/08

Javier (IV)

Estaba a punto de llamar a la puerta 19 cuando la profesora Santamaría salió de su despacho.

- ¿Buscas al profesor Aledo?-le preguntó mirándola de arriba a abajo.

- Sí, eh, buenas tardes. Quería consultarle unas dudas que tengo sobre la próxima práctica.

- Es normal que las tengas, porque parece que no acudes a clase a menudo- la profesora Santamaría, que impartía Técnicas de Modificación de Conducta en cuarto curso y era famosa por la actitud desdeñosa que dedicaba a todo ser viviente que careciese de órgano sexual masculino, empezaba a caerle realmente mal-. Javier no está.

- ¿No? Vaya, la verdad es que he venido un poco tarde. Ya le veré mañana en clase- concluyó. Si Santamaría confiaba en que apelase a la cortesía, se equivocaba.

- Creo que no me has entendido. Javier no está en la universidad. Esta semana se ha despedido de los alumnos.

-Pero, ¿dónde está? Quiero decir, ¿por qué se ha marchado?

- Señorita, el profesor Aledo ha pedido una excedencia para incorporarse a un proyecto de investigación en el extranjero y, a buen seguro, a estas alturas ya se habrá instalado en Argentina. Si le interesa, sus clases serán ahora coordinadas por el profesor suplente.

Argentina. ¿Argentina? Argentina se repetía como un eco chirriante en su cabeza. Ya se habrá instalado en Argentina. Pero, ¿qué demonios significaba eso? ¿Por qué se había marchado Javier? Ni siquiera se despidió de Santamaría, solamente echó a correr para salir cuanto antes de aquella facultad.

Todo comenzó al llegar a la capital. Sus padres no habían visto con buenos ojos su decisión de cursar Psicología, pero los buenos resultados académicos la respaldaban, y el acolchado notable en Selectividad fue el empujón definitivo. Terminadas las gestiones universitarias, había emprendido la deleitosa misión de dar con el apartamento de sus sueños: uno que no fuese extremadamente caro y que le permitiese pintar a sus anchas si la llamada de las musas despertaba su instinto. La posibilidad de establecerse por su cuenta y fijar sus propios horarios le permitiría gozar de la libertad suficiente como para que nunca faltase en casa un lienzo por estrenar. Además, sabía lo difícil que podía ser la convivencia y no quería que ningún factor externo eclipsase las visitas de Marta y Raquel, sus mejores amigas. Conocía a Marta desde la guardería y allí habían compartido tanto novios como pucheros. En el colegio, Raquel había aparecido en el patio de entre la multitud fluctuante para preguntarles si alguna de ellas podía abrir su zumo, y, con el tiempo, las tres habían formado un triángulo de vértices perfectos. Por su parte, Marta, que muy de niña había descubierto un desenfrenado amor por Rita Hayworth y que se quejaba de que hoy en día no quedaban mujeres en el mundo capaces de mantener una relación medianamente normal, contaba con una plaza en Medicina. Y Raquel, una prodigiosa joven violonchelista y cinéfila hasta la saciedad, perfeccionaría su técnica en el nuevo conservatorio con el fin de superar las pruebas de la Orquesta Sinfónica. Ambas habían insistido en que un piso para las tres sería una aventura para no olvidar, pero la cuestión de vivir sola era una cuenta pendiente consigo misma y, tan pronto como leyó en el periódico local el anuncio de un pisito en la calle Real, tuvo claro que aquél sería su hogar, sin saber, todavía, que esas paredes acogerían los momentos más dulces que jamás pudo imaginar junto a Javier.

Pero Javier no estaba. Es más, estaba en Argentina. Deambuló durante horas por el parque y la zona antigua. No quería volver a casa, le asustaba volver porque, por primera vez en tres años, le resultaba deprimente que no hubiese nadie esperándola. Finalmente, entró en una cafetería y se sentó en el rincón más apartado. Se percató, al notar el contraste de luz cuando miró por la ventana, de que ya había oscurecido, y el reflejo del cristal le devolvió la mueca de desconcierto. Era absurdo pensar que Javier viviese en otro país, otro continente y otro hemisferio. No recordaba haberle oído hablar de una oferta de trabajo de esa envergadura. Estaba segura de que, por supuesto, se lo habría dicho, porque siempre lo comentaban todo y Javier contaba con su criterio. Javier no era un romántico empedernido, pero tenía la virtud de hacer que las palabras adquiriesen un matiz especial cuando él las pronunciaba. Era un hombre maduro, con años de luchas por los que ella aún no había pasado. No me importa la edad, no me importa de dónde vengamos. No quiero que nos expliquemos nuestros errores. Sólo quiero que seamos tú y yo. Juntos.

14/9/08

Tu noche y la mía


Hay una canción, una canción que vais a conocer seguro, una canción que habla de... Una vez conocí a cierta persona que me provocó lo suficiente como para desear que aquella noche no se hubiera acabado jamás. Y confío en que esto a vosotros os haya pasado muchísimas veces, porque yo creo que es maravilloso.


Carlos Goñi

10/9/08

Javier (III)

Los días que siguieron a la ruptura resultaron más complicados de sobrellevar de lo que había imaginado, seguramente porque, en su interior, había conservado intacta la esperanza de que ésta nunca llegaría. Pero la esperanza no es sino el disfraz de las debilidades, y la suya era y sería la figura incandescente de Javier. El alba se le adelantaba al sueño y las horas se escabullían sin tan siquiera llevarse el trago amargo del desconsuelo. Durante una semana, su apartamento fue la única guarida en la que invocar al recuerdo, ya que el miedo a comprobar que la rutina nada quería saber de su desdicha era más aterrador si cabe que el olvido. En aquel oasis, todas las caricias, todas las conversaciones de alcoba renacían fugaces, para luego verse ahogadas por el llanto y socorridas por la celulosa.
Cierto romanticismo decimonónico se adueñó del ambiente cargado que acusaba la sepultura momentánea a la que se había sometido. Y una noche, tendida sobre la cama, retomó casi por casualidad el sendero de sus antiguas aspiraciones. Años atrás, cuando la monotonía de la que había desertado formaba parte del destino, solía descansar sus metas y ensueños bajo las sábanas, pero quizás el rumbo que había tomado su propia vida la había apartado de aquel ritual para cotejar lo acaecido hasta entonces. Y es que la capital le había arrebatado los preciados tesoros de la niñez y los había transformado en complicadas y extrañas vivencias. Sin embargo, hubo un tiempo en que imaginaba el mañana que aún estaba por llegar. Se veía en la facultad, paseando por el campus cargada de apuntes, buscando libros en la biblioteca que ampliasen el temario. Se veía haciendo el doctorado, investigando con su equipo de trabajo, elaborando su tesis. Se veía en el consultorio que fundaría con colegas de profesión, redactando reveladores artículos sobre escondrijos recónditos de la mente, viajando a convenciones, tratando a sus pacientes. No pretendía devolver la cordura a un puñado de excéntricos personajes; aspiraba a derrotar los temores que atormentaban a otros, descubrir la razón última del intelecto, ganarle la partida a la naturaleza humana. También consagraba tardes enteras a dar largos paseos y se sentaba en la Alameda para observar al gentío que por ella transitaba. Se enternecía con los chiquillos que parloteaban acompañados de adultos absortos en quimeras, y con los ancianos que, ayudados de un bastón, caminaban en grupo relatando antiguas batallas. Se preguntaba cómo sería aquella chica distraída que a punto había estado de chocarse con el señor que hablaba por telefono. Creaba amantes imposibles, divertidos episodios escolares, historias con finales inéditos. Admiraba la maravilla del mundo bajo la humilde perspectiva que le ofrecía la urbe. Y la suerte había querido que, en su empeño, Javier fuese el pilar en que apoyarse. Así que, al día siguiente, decidió salir a la calle y presentarse en la facultad, no solo para vencer la porfía del mundo, sino para algo más: encontrar en los ojos de Javier una respuesta que callase todas sus preguntas.

En el edificio las cosas seguían como las había dejado. La misma gente caminaba por los mismos pasillos con las mismas trazas e idénticas prisas. Se percató de que las piernas empezaban a temblarle a medida que se adentraba en el corredor de los despachos y terminó por arrojar el chicle en la primera papelera que oteó. La señora de la limpieza canturreaba y el conserje, colmado de fotocopias, salía del despacho vecino. Cerró los ojos. Inspiró profundamente. Y aguardó unos segundos frente a la puerta 19 antes de golpear la madera con los nudillos de su mano derecha.

4/9/08

El Cementerio de los Libros Olvidados

-Este lugar es un misterio, Daniel, un santuario. Cada libro, cada tomo que ves, tiene alma. El alma de quien lo escribió, y el alma de quienes lo leyeron y vivieron y soñaron con él. Cada vez que un libro cambia de manos, cada vez que alguien desliza la mirada por sus páginas, su espíritu crece y se hace fuerte. Hace ya muchos años, cuando mi padre me trajo por primera vez aquí, este lugar ya era viejo. Quizá tan viejo como la misma ciudad. Nadie sabe a ciencia cierta desde cuándo existe, o quiénes lo crearon. Te diré lo que mi padre me dijo a mí. Cuando una biblioteca desaparece, cuando una librería cierra sus puertas, cuando un libro se pierde en el olvido, los que conocemos este lugar, los guardianes, nos aseguramos de que llegue aquí. En este lugar, los libros que ya nadie recuerda, los libros que se han perdido en el tiempo, viven para siempre, esperando llegar algún día a las manos de un nuevo lector, de un nuevo espíritu. En la tienda nosotros los vendemos y los compramos, pero en realidad los libros no tienen dueño. Cada libro que ves aquí ha sido el mejor amigo de alguien. Ahora sólo nos tienen a nosotros, Daniel. ¿Crees que vas a poder guardar este secreto?

Mi mirada se perdió en la inmensidad de aquel lugar, en su luz encantada. Asentí y mi padre sonrió.

-¿Y sabes lo mejor? -preguntó.

Negué en silencio.

-La costumbre es que la primera vez que alguien visita este lugar tiene que escoger un libro, el que prefiera, y adoptarlo, asegurándose de que nunca desaparezca, de que siempre permanezca vivo. Es una promesa muy importante. De por vida -explicó mi padre-. Hoy es tu turno.

Carlos Ruiz Zafón

2/9/08

Cuando fui mortal


Allí donde el tiempo transcurre y fluye ya ha pasado mucho tiempo, tanto que no quedará nadie de quienes conocí o traté, o padecí o quise. Cada uno de ellos, supongo, volverá sin ser percibido a ese espacio en el que se acumulan olvidados los tiempos y no verá allí más que a extraños, hombres y mujeres nuevos que creen, como los niños, que el mundo empezó con su nacimiento y para los que no tiene ningún sentido preguntarse por nuestra existencia pasada y barrida. Yo no puedo hablar ahora de noches o días, todo está nivelado sin necesidad de esfuerzo ni de rutinas, en las que puedo decir que conocí sobre todo la tranquilidad y el contento: cuando fui mortal, hace ya tanto tiempo, allí donde todavía hay tiempo.


Javier Marías

30/8/08

Carta a padre

I
Estos días, padre, y en este sol de la infancia
me viene tu recuerdo como un viento caliente,
el viento que en verano acunaba las siestas
y secaba el camino por donde tú llegabas.

Recuerdo tus silencios en las noches de invierno.
Cuando, sentados juntos, madre contaba historias
y tú te sonreías del miedo y de los muertos.
Y decías: “A quien hay que temer es a los vivos”.

Luego más tarde supe, padre, que tus temores
venían de muy lejos y habitaban cercanos
en las calles de barro y en las casas de adobe
y te ahogaban el pecho y el corazón cansado.

Pocas veces hablaste de la guerra, aunque a veces
nos dejabas que viéramos la metralla azulada
que aún tenías en el cuerpo y nosotros pasábamos
los dedos por aquellas cicatrices de hierro.

No estuviste en el bando de quienes conquistaron
esa paz que te trajo el miedo de los días,
el silencio del hambre, la búsqueda imposible
del sueño de un muchacho de diecinueve años.

El miedo de los vivos te ha acompañado siempre.
Y puso entre tus brazos el dolor de las cosas,
cuando España no era sino la historia triste
más triste de todas las historias de la historia.

Te recuerdo en la noche cuando en la vieja radio
buscabas entre ruidos que estaban prohibidos
la esperada noticia de que, al fin, aquel año
un viento bien distinto lo barrería todo.

Pero nunca llegó aquello que esperabas.
Ni siquiera más tarde, cuando todo cambió
pudiste pronunciar en las nuevas palabras
las que el miedo te había cosido a los labios.

Era la historia otra. Y eran otras las cosas.
Y seguían los mismos que habitaban tus miedos.
Aquella vieja radio años llevaba rota
y Radio Pirenaica era sólo nostalgia.

II
Tú me enseñaste, padre, a andar en bicicleta
y a mirar la pobreza con orgullo y sin miedo.
Y que todo es de todos cuando el hambre lo dice
y que el dinero vale para comer hoy mismo.

Recuerdo tu sudor amasando el adobe.
Y los sacos de pájaros que te daban a cambio
de limpiar los tejados y la fiesta que era
aquella noche en casa –risa y pájaros fritos-.

Yo no sé si he tenido tiempo para contarte
de mis libros y versos. De mis tristes triunfos,
de todos mis fracasos. Ni de las muchas veces
que te he echado de menos cuando he llorado solo.

Y de lo que me gustaba el mediodía del sábado
cuando los dos tomábamos en aquel bar de Poli
un vino y me decías que, al fin, los socialistas
subirían las pensiones y había que darles tiempo.

Luego fuiste dejando memorias y recuerdos
Y tu mundo fue oscuro como el de aquellas noches
de los cuentos de madre en la cocina fría
y mirabas sin vernos. Y llorabas a veces.

Ahora, en estos días azules de mi infancia,
cuando tengo los mismos años que tú tenías,
te recuerdo callado y me dicen a veces
que soy como tú mismo. Y, como tú, yo callo.

Rodolfo Serrano

26/8/08

Javier (II)

Cuando el sonido del telefonillo anunció que Javier aguardaba a que un chasquido eléctrico le concediese permiso para recuperar sus enseres, ella aún rodeaba con la mirada el clasificador. Después de apretar el botón, corrió apresurada a la puerta para recibir a Javier. Vislumbró desde el vestíbulo su silueta. Subía los peldaños de dos en dos, como de costumbre, y apretaba con firmeza la barandilla, la única protección que impedía a los vecinos caer por las escaleras viejas y mugrientas del edificio. Al sobrepasar el último escalón, Javier levantó la vista. Estaba tenso, con una expresión no de incomodidad, pero sí de malestar. Emitió un gruñido, que ella tomó como saludo, y se metió las manos en los bolsillos para disimular la inquietud.

-Hola. Oye, ¿te pasa algo? Habíamos quedado hace un buen rato y la verdad es que traes mala cara -dijo ella tratando de introducir un poco de normalidad en aquel encuentro.

Javier no contestó y dirigió sus pasos al salón. Ella fue detrás, molesta por la respuesta silenciosa que acababa de obtener.

-¿Sabes? Lo mínimo que esperaba es que nos comportásemos como personas civilizadas, pero si no pones de tu parte, difícilmente podremos llegar a ningún lado.

-Es que no hay ningún lado al que llegar. Solo he venido a por mis cosas y creo que para eso no es necesario hablar -replicó Javier con un tono cortante.

Ella se dio por vencida y permaneció en el umbral de la puerta del salón mientras Javier cogía las dos malditas cajas. Pero algo llamó la atención de éste, que se paró en seco a retirar uno de los objetos. La carpeta. Ella rompió a llorar.

-Javier. ¡Javier! ¿Qué haces? ¿Qué demonios estás haciendo? Cógelo, ¡cógelo y vete! Te juro que no te entiendo, no soy capaz de comprenderte. En serio, ¿quieres terminar así? Dime. ¡Di algo!

Gritaba y hacía aspavientos con las manos. Quería zarandear a Javier, golpearlo, quebrar la impasibilidad que lo mantenía con los brazos caídos y la boca cerrada.

-Mírame, Javier, so... soy yo -intentó explicarle que lo amaba, que para ella nada había cambiado; sin embargo, el llanto entrecortaba su discurso y el pecho empezaba a dolerle, por lo que tuvo que sentarse. Ahora que veía a Javier desde esa perspectiva se sentía realmente pequeña-. Soy yo.

Javier, de pie junto a ella, respiraba con fuerza y apretaba los puños. Ella lo observaba, con los ojos enrojecidos y las lágrimas bañando ambas comisuras de la boca. Abandonados al destino, tardaron varios segundos en reaccionar. Cuando quisieron darse cuenta, Javier se había inclinado para besarla. La besaba con dulzura, sosteniendo su nuca con una mano y, con la otra, acariciando su mejilla. Ella lo abrazaba, lo asía, protegía la pena con el pecho del hombre de su vida. Y entonces se entregaron el uno al otro. Se entregaron sus flaquezas, sus ilusiones, sus miedos, se entregaron un Todo contenido en un beso eterno, porque sabían que aquella sería la última vez. Aquella sería la despedida.

5/7/08

El centro de mi pasión

Ella tembló y se crispó cuando le besé el ángulo de los labios abiertos y el lóbulo caliente de la oreja. Un racimo de estrellas brillaba pálidamente sobre nosotros, entre siluetas de largas hojas delgadas; aquel cielo vibrante parecía tan desnudo como ella bajo su vestido liviano. Vi su rostro reflejado en el cielo, extrañamente nítido, como si emitiera una tenue irradiación. Sus piernas, sus adorables y vivaces piernas, no estaban muy juntas, y, cuando localicé lo que buscaba, sus rasgos infantiles adquirieron una expresión soñadora y atemorizada en la que se mezclaban el placer y el dolor. Estaba sentada algo más arriba que yo, y cada vez que en su solitario éxtasis se abandonaba al impulso de besarme, inclinaba la cabeza con un movimiento muelle, letárgico, que tenía un no sé qué de triste e involuntario, y sus rodillas desnudas apretaban mi muñeca y la oprimían con fuerza para relajarse después; y su boca temblorosa, que parecía crispada por la acritud de alguna misteriosa pócima, se acercaba a mi rostro respirando jadeante. Mi amada procuraba aliviar el dolor del anhelo restregando primero ásperamente sus labios secos contra los míos; después echaba hacia atrás la cabeza sacudiendo nerviosamente su cabello, y, por último, volvía a inclinarse sobre mí como impelida por una fuerza irresistible y me dejaba succionar con ansia su boca abierta; por mi parte, impulsado por una generosidad pronta a ofrecérselo todo, mi corazón, mi garganta, mis entrañas, le había hecho rodear con su puño inexperto el centro de mi pasión.


Vladimir Nabokov

23/6/08

Pensaba en Teresa

Pensaba en Teresa mientras caminaba lentamente, acudiendo a otra cita peligrosa, más peligrosa aún porque no cabían los malentendidos y porque había pasado demasiado tiempo, y la recordaba, la chaqueta de ante y el gorro de lana negra, tan distinta de la mujer con quien había tropezado en una hamburguesería un par de años antes, o quizás tres, no se acordaba bien. Llegó a sentir cierta emoción, pero no se inquietó por ello. Proyectó una estúpida travesura, comprar flores nuevas, aunque ya no fueran violetas, y se sorprendió sonriéndose a sí mismo, imaginando la imprevisible reacción que tal regalo desencadenaría en su anónima corresponsal, la mujer X, esa criatura ávida de emociones fuertes, piel hastiada en pos de una violencia imaginaria, sólo un recurso para recuperar la consistencia, el escalofrío perdido, flores, un gesto en definitiva distante, por lo cortés, para con aquella niña triste que buscaba la felicidad fuera del camino vallado, de espaldas a la aparente dignidad de los seres humanos. Sería divertido verlo, pensó, sonriendo todavía, mientras recorría el último tramo echando un vistazo a su alrededor, apostando contra sí mismo a que no encontraba una floristería abierta por los alrededores. Desembocaba ya en la Plaza de España cuando tropezó con una anciana diminuta, una melena de canas despeinadas enmarcando un rostro muy pequeño, los ojillos rasgados como dos puñaladas y los labios finos, que vendía las pocas flores que cabían en dos cubos de plástico llenos de agua. Él se detuvo en seco, como si por un instante creyera en el destino. Ella le miró sonriente.

Almudena Grandes

16/6/08

La canción más hermosa del mundo

Les presento a mi abuelo bastardo,
a mi esposa soltera,

al padrino que me apadrinó
en la legión extranjera,

a mi hermano gemelo,
patrón de la merca ambulante,

a Simbad el marino
que tuvo un sobrino cantante,


al putón de mi prima Carlota
y su perro salchicha,

a mi chupa de cota de mallas
contra la desdicha,

mariposas que cazan en sueños
los niños con granos

cuando sueñan que abrazan
a Venus de Milo sin manos.


Me libré de los tontos por ciento,
del cuento del bisnes,

dando clases en una academia
de cantos de cisne.

Heredé una botella de ron
de un clochard moribundo,

yo quería escribir la canción
más hermosa del mundo.

Joaquín Sabina

10/6/08

Cuando una mujer escribe una novela protagonizada por una mujer

En el transcurso de un simpósium internacional sobre la literatura de mujeres dije por primera vez en público una frase que luego he visto repetir a otros convertida en un tópico colectivo. Que se me perdone la jactancia de reclamar la autoría de la frase, pero quizá sea la única ocasión en la que un pensamiento mío adquiera vida propia y pase a formar parte de los dichos anónimos de la sociedad. Y lo que dije fue: Cuando una mujer escribe una novela protagonizada por una mujer, todo el mundo considera que está hablando sobre mujeres; mientras que cuando un hombre escribe una novela protagonizada por un hombre, todo el mundo considera que está hablando del género humano.

No tengo ningún interés, absolutamente ninguno, en escribir sobre mujeres. Quiero escribir sobre el género humano, pero da la casualidad de que el cincuenta y uno por ciento de la Humanidad es de sexo femenino; y, como yo pertenezco a ese grupo, la mayoría de mis protagonistas absolutos son mujeres, del mismo modo que los novelistas varones utilizan por lo general personajes principales masculinos. Y ya va siendo hora de que los lectores hombres se identifiquen con las protagonistas mujeres, de la misma manera que nosotras nos hemos identificado durante siglos con los protagonistas masculinos, que eran nuestros únicos modelos literarios; porque esa permeabilidad, esa flexibilidad de la mirada, nos hará a todos más sabios y más libres.

Rosa Montero

9/6/08

Tenemos que hablar


El "tenemos que hablar" pronunciado con un determinado tono de voz presagia lo peor. Irrumpe en la vida cotidiana como anuncio de algo que nos hará cambiar radicalmente. Sabes que las cosas ya no funcionan desde hace tiempo: la intimidad ha desaparecido, las explicaciones de las ausencias suenan a excusa, lo que antes te hacía gracia ahora te produce un cierto fastidio, sueles quedarte perpleja mirándole como si no le reconocieras o identificaras con el hombre con el que te casaste, seguramente enamorada... Y entonces, cuando dice que hay otra y que además se va a ir a vivir con ella, sientes rabia. Primero te quedas algo anonadada, como si no pudieras reaccionar, y luego sientes ganas de pegarle y tirarle cosas a la cabeza, y gritar y decirle que te ha estafado.

Carmen Alborch

7/6/08

Después de aquel beso

Pero luego, después de aquel beso larguísimo frente al escaparate, pensó que incluso si no volvía a ver a Juan, incluso si había echado por tierra la posibilidad de una amistad, incluso si se estaba comportado como una niña, siempre le quedaría el recuerdo de aquellos minutos (la luz, el sonido amplificado de dos respiraciones sincronizadas, la lengua que exploraba en su boca, las manos que le acariciaban la nuca, todo tan concentrado como para que no existiera nada más que ese beso en el mundo) y que eso no se lo iba a quitar nadie, nunca. Y con eso le bastaba.

Lucía Etxebarria

2/6/08

Javier

Removía pensativa el poco café que aún contenía su taza, como resistiéndose a dar el sorbo definitivo. Había quedado con él en su casa y estaba extremadamente nerviosa, pasaban cinco minutos de la hora fijada y parecía que el timbre no iba a sonar nunca.

Los bártulos se amontonaban al lado del sofá: dos cajas que acumulaban los retazos de un pasado tejido al unísono. Miró el reloj y se cercioró de que ya no eran cinco, sino ocho los minutos de espera. Así que se apartó del mesado, posó el café ya frío e insípido en el fregadero y se acercó a una de las cajas para echar una ojeada y no pensar. Entonces vio la carpeta de cuero negro y el estuche. Javier era un maniático, revisaba constantemente sus exposiciones, repasaba cada afirmación mudando las pausas, buscaba los fallos que nadie, excepto él, podría advertir. Rara vez dejaba un escrito tal y como lo había concebido en su génesis y solía consultar con ella qué palabra o qué expresión era la más acertada. Vivía volcado en el trabajo, pero eso jamás le había impedido dedicarle tiempo a su vida personal, a ella. Decía que compartir el conocimiento era uno de los grandes tesoros del hombre contemporáneo. Y ella lo admiraba, porque había aprendido de él, porque Javier la había tratado como a un igual, porque se había preocupado de que el amor que sentía por ella no la menguase, que la ayudase a crecer.
La carpeta era su primer regalo. Recordó cuánto le había costado encontrar el obsequio apropiado para un profesor de universidad convertido en amante. Sabía lo mucho que le gustaba a Javier la música clásica, pero pensó que un disco era demasiado impersonal y que aventurarse a regalarle entradas conjuntas para un concierto podría ser interpretado como un modo de afianzar la relación o algún otro malentendido que deseaba evitar. Con lo que atendió a la lógica y optó por el archivador más exquisito de todo el centro comercial. Por supuesto, Javier no lo llevaba a clase, pero sí que lo empleaba para guardar sus notas y las ponencias que redactaba. Ella había asistido a varias de sus charlas, a algunas como acompañante y a otras como alumna de la universidad. La verdad es que Javier era un buen conferenciante. Su oratoria no resultaba pesada y el tono era amigable y cercano. A ella le encantaba notar la intensidad que aplicaba en cada golpe de voz y comprobar cómo el mismo entusiasmo se reflejaba en su gesto. Y no sólo eso, también era un magnífico profesor. Sus explicaciones eran claras, lo cual facilitaba abundantemente el estudio de la asignatura, y no mostraba impedimentos a la hora de atender cualquier duda. Fue esa accesibilidad la que les concedió la oportunidad de conocerse más allá del protocolo académico.
¿Que si había pensado que aquello era una locura? ¡Claro que lo había pensado! Millones de veces. Pero se merecían la felicidad que habían compartido durante tres años. Después de todo, ella destacaba por su madurez, por su forma peculiar de ver la vida, y él no se parecía en nada a sus congéneres. Ambos disfrutaron de su compañía, de lo que se confesaban, de lo que suponían descifrar del otro. No, no había nada malo en quererse como lo habían hecho. Javier era un hombre sensato que no habría estado dispuesto a perder el tiempo si hubiese sabido que aquello no les llevaba a ninguna parte. Y ella no se habría enamorado de buenas a primeras.
Volvió a mirar el reloj y se percató de que había pasado media hora más. La espera la estaba matando. ¿Y si no venía? Eso sería absurdo. Las cosas eran suyas y Javier la había llamado por la mañana para recuperarlas. A lo mejor se lo había pensado y había decidido no acudir a la cita, llamar de un momento a otro para posponerla y evitar el mal trago por un par de días. O quizás prefería que siguiesen en su casa para mantener la esperanza de una reconciliación. Quizás Javier aún la quería y todo aquel trance le dolía tanto como a ella. Se habían enseñado demasiado el uno al otro, lo suyo no podía, no debía terminar de ese modo. Porque ella amaba a Javier, amaba sus manos, tan sabias y tan protectoras, amaba las arrugas de su frente, amaba sus camisas, amaba su caligrafía, amaba la curva que su sonrisa le dibujaba en las mejillas. Javier no era su pasado, seguía siendo su presente. Ella era Javier, y lo sería siempre. Javier. Javier... Y, haciéndose un hueco en la habitación, el sonido del telefonillo la sacó de sus pensamientos.

26/5/08

Un pecado original

Si fuera a Religión, tendría que confesar al cura un pecado original que cometí el otro día. Pero como voy a Ética, sólo te lo voy a contar a ti, que me has caído bien, y a media España, que también me ha caído bien, porque yo no soy de los que van por la calle preguntando: "Oiga, perdone, ¿es usted cura? ¿Me quiere confesar un pecado bastante original?"

La gente me tomaría por loco: unos dirían: "Anda, vete, salmonete", y otros saldrían corriendo despavoridos. Mi madre me apuntó a Ética para ver si aprendía un poco de educación, que falta me hace: "Por lo menos que hagas menos ruido mientras comes, hijo mío."

Mi abuelo sí que hace ruido, pero como los dientes que lleva no son suyos sino que son del Alcampo, pues todo el mundo le disculpa. De todas maneras, lo único que nos enseña la sita Asunción en Ética es repetirnos mil veces que, como sigamos siendo ese pedazo de bestias que somos, al bajar al patio acabaremos siendo unos delincuentes. Pero eso no es nada nuevo, eso nos lo dice a todas horas, hasta en Matemáticas, hasta en sueños me lo dice esa mujer despiadada.

Elvira Lindo

19/5/08

Dobles


Hace algunos años conocí a mi doble. Lo cierto es que no recuerdo su nombre, pero éramos igualitas. Incluso el que por entonces decía ser mi novio pasaba más tiempo con ella que conmigo. Tanto, tanto, tanto nos parecíamos, que un buen día nos dejó a las dos y se marchó con otra.

8/5/08

La melancolía

Blanca creyó que había pasado el verano sin quemarse; pero al poco tiempo de regresar a Desrein la atrapó la melancolía. Recordaba a John cada vez que veía fumar a un hombre, a cada paso que daba. Reconstruyó con primor los primeros encuentros, las primeras frases que habían cruzado en clase, cuando ella se aburría y se dedicaba a perseguir musarañas.

Con Elsa no sabía hablar de otra cosa, y analizaba hasta el hastío su comportamiento. ¿Se había dejado llevar por la pasión, o había podido el afán de derrotarle en el campo que Blanca mejor conocía? ¿Sería él sincero en sus últimas palabras de amor? ¿Perdería el interés si Blanca hacía lo imposible por continuar la relación?

-Fui una estúpida -se lamentaba-. ¿Quién me mandaría mostrarme tan engreída? ¿Sabes que le dejé plantado más de una vez? -Se reía-. ¡Qué boba soy! Debería haber aprovechado todos los momentos en los que podíamos estar juntos.

Cuando no pudo más, fue a comprobar si le habían llegado cartas al piso de estudiantes. Habían llegado.

Espido Freire

22/4/08

Un dólar a cambio dun colar


Olláchesme detidamente, analizando todos e cada un dos trazos do meu rostro de marusías. Pousaches as pupilas nas miñas patas de galo, no estertor dos ollos, na fumegante rabia do balbordo de mil terminais e ningún destino definitivo. Detivécheste no rosmar da pel, no canso movemento dos brazos, nos exiguos saúdos de ducias de epidermes mortas. Viches como achegaba os pés á auga con sorpresa, como deixaba que os dedos naufragasen nos restos de coral e como enxerguei ao horizonte na procura do silencio. Soñaches cun dólar a cambio dun colar de pedras tan laranxas como as túnicas dos monxes que encontrara no mercado. E a túa esperanza converteuse en decepción ao comprobares media ducia de corais rabuñando o meu colo, os meus pulsos e os meus dedos enrabechados polo sol. Tentei dicirche que xa tiña abondo, que non podía mercar máis alfaias, que acababa de chegar, que o tempo se me escapaba, que só necesitaba ollar o mar e, talvez, esquecer por que fuxira ata tan lonxe. Por que o Mar de Andaman ía ter comigo a indulxencia que non tivera o Atlántico. Ti non afastaches eses ollos indonesios –metade conquista portuguesa metade imperio chinés- do meu fociño pelado e estendiches a man coas túas pedras coloreadas. A min sobrábame e a ti faltábache pero a linguaxe enguedellou as nosas intencións.

Entón, a onda varreu as nosas preguntas sen resposta. Enxergounos de lonxe, dende o abismo das incomprensións e cabalgou ruidosamente nunha carreira desbocada en torno aos nosos fracasos. Envolveunos nunha loita frenética por tronzar o que un día foramos. Pero tivemos sorte, o instinto quixo salvarnos a nós sen admitir incongruencias. E arrastramos o noso susto, a nosa rabia, o noso desasosego a través dun areal tronzado de palmeiras e barcos de despece, esquivando corpos derretidos polas brasas dun volcán de auga e barro. Entón, só entón, ofrecinche toda a miña nada. A cambio dun colar de corais houben pagar ducias de desvelos, un insomnio tormentoso que me persegue dende aquela corrente, esta gran marea de furia que me remexe os miolos. Logo de que todo pasou, a penas dez minutos despois xa alguén deletreaba o meu nome no hotel cando ninguén preguntaba nin preguntaría por ti nesa que era a túa casa e para min unha brincadeira. E marchei co posto, cun único instante para fitar as túas perlas negras chorosas dende o cristal do autobús que me levaba ao aeroporto. Deixeite alí, rodeada de lama e refugallos, un rostro infantil sen identidade que vagaría polos arrabaldes da que un día fora a túa aldea e o meu descanso. Do que hoxe é a túa reconstrución e o meu pesadelo. Este pesadelo continuo nas noites en que abrazo a almofada e aínda me sabe ao ferruxe daquel coche á deriva que nos salvou. Ou que nos matou para sempre.

Rosa Aneiros

19/4/08

Aquel beso dulce y abrupto

Se detuvieron al mismo tiempo, para mirar y escuchar, y entonces ella le besó, posó los labios sobre su mejilla, muy cerca de la comisura de la boca y él, con una rapidez insólita, tomó la cabeza de la muchacha entre las manos y la desvió ligeramente, y ella se lo permitió, le franqueó la entrada a su propia boca y le devolvió aquel beso casual, frívolo, político, que él atesoraría durante años como uno de los momentos culminantes de su vida.

En su memoria, aquel instante llegaría a alcanzar la naturaleza débil y amarillenta de un pergamino finísimo, muy viejo y raído ya por los bordes, la morbosa condición de los recuerdos obsesivos, invocados cada día con frecuencia sistemática, deliberadamente desgajados del resto de la historia, del resto de todas las historias, porque dentro de su cabeza la escena siempre terminaría con aquel beso dulce y abrupto, él besando durante tanto tiempo a Teresa en medio de la acera, no había nada después, se negaba a recordar, a reconocer el resto.

Almudena Grandes

6/4/08

Papá cuéntame otra vez

Esta canción va para ti, para los que estáis aquí, para los ausentes, por tantos años, por acercarme la certeza de que otro mundo es posible. Porque vosotros sabéis, como yo, que los que antes de ayer morían en Vietnam, ayer lo hacían en Bosnia y hoy lo hacen en Bagdad.

Canta conmigo Papá cuéntame otra vez.

Ismael Serrano

31/3/08

Mi madre

Mi madre vivió plenamente su tiempo, se dejó arrastrar por aquella corriente colectiva sin sospechar la inminente vorágine del precipicio. Habiendo crecido sin raíces sólidas la arrolló el ímpetu del torrente, no era un cauce, que podía verse embestido por la crecida y permanecer en su lugar, sino, en realidad, una humilde brizna de hierba, como decía en su poesía. El terrón en el que había nacido había caído en la corriente, obligándola a una navegación en solitario. Puede que ante el estruendo de la cascada, que al cabo de poco la arrojaría a lo desconocido, haya sentido nostalgia de esas raíces que nunca tuvo.

En el fondo, pensé, la estructura de un hombre no difiere mucho de la de un terreno cárstico: en superficie se suceden días, meses, años, siglos de un tiempo histórico en continua transformación -por encima de él pasan coches o carrozas, simples excursionitas o un ejército vencido-, pero por debajo la vida permanece intacta, siempre igual a sí misma. No existen variaciones de luz ni de temperatura en esas cavernas oscuras, no hay estaciones ni transformaciones, los urodelos chapotean felices tanto si llueve como si hace sol y las estalactitas continúan bajando hacia las estalagmitas como enamorados separados por una divinidad perversa. En ese mundo creado por el agua todo vive y se repite con un orden casi invariable. Así mi madre vivió con fervor los años de la revolución, para alcanzar ese sueño.

Susanna Tamaro

27/3/08

Los hombres que me gustan

Los hombres que me gustan o, por mejor decir, los hombres que me pierden, reúnen todos ellos, que yo sepa, tres condiciones concretas. En primer lugar, son guapos: me avergüenza reconocerlo, pero es así. Segundo, son inteligentes: si el más guapo del mundo dice una necedad se convierte en un pedazo de carne sin sustancia. Y ahora viene el ingrediente fundamental, el tercer elemento que cierra el ciclo de la seducción como quien cierra un candado: son individuos con una patología emocional que les impide mostrar sus sentimientos. Esto es, son los tipos duros, fríos, reservados, ariscos, en quienes creo adivinar un interior formidable de ternura que no consigue encontrar la vía de salida. Yo siempre sueño con rescatarlos de ellos mismos, con liberar ese torrente de afecto clausurado. Pero eso nunca se logra. Y lo que es aún peor: sospecho que, si algún día uno de esos chicos duros llegara a mutarse en un individuo afable y cariñoso, lo más probable es que dejara de gustarme.

Rosa Montero

26/3/08

Las aguas

Suena música en mi casa durante todo el día, pero cuando desciende la noche no puedo impedir que el lago, a veces enloquecido y otras sólo crepitante, se apodere de todo el sonido y me confunda con sus movimientos imaginarios. Creo descubrir en ocasiones que esas aguas tienen otra vocación, que no las hizo la Mano para permanecer estancadas, que se saben río, y mar, y rizo, y brisa, que se distraen de su dilatado destino jugando a ser lo que hoy no son pero tal vez fueron o quizá serán. Yo no las he visto bajo otra forma. Tampoco las veré, pues ya agonizo. Será ese lago sin duda lo último en mirarme, y lo único que ignoro es el aspecto con que sus aguas se me ofrecerán el día. Yo las prefiero como espejo empañado, cuando se muestran benévolas y sólo reproducen mis facciones difuminadas, sólo el contorno, la blanca mancha, lo esencial nada más, lo justo para reconocerme y poder, empero, contemplarme a voluntad como los muchos que fui, y los pocos que soy, y el esqueleto. Así las prefiero, pero su estatismo involuntario -tal vez impuesto- sólo sabe renegar de sí adquiriendo distintos rostros con la ayuda irreflexiva, indiferente y muda de la luna y el sol cambiantes.

Javier Marías

10/3/08

Carlos

"¿Ves como teño razón?", díxome Carlos. "Sodes unha familia chea de misterios", engadiu. Respondinlle: "Quizais por iso eu fun feliz, porque nunca quixen sabelo todo". Carlos sorriu e comentou: "Talvez teñas razón, Periquita, hai cousas que é mellor non sabelas". Díxenlle que non sabía a qué se estaba referindo en concreto, pero que desde había anos eu tiña a sensación de que sabía algo que non me quería dicir. Carlos seguía recostado no sillón de vimbio, cun vaso de whisky na man dereita e os ollos lixeiramente virados cara a lúa e as pernas cruzadas. Fixeime que non levaba calcetíns e que tiña os pés escuros, tostados polo sol, dunha cor lixeira que harmonizaba moi ben coa delicadeza da pel, unha suavidade case infantil, de melocotón, como se aínda conservase a carne que tiña cando era bebé. No dorso das mans, a pel semellaba distinta. Eran mans de home, fortes e duras, aquelas mans que cando dabamos unha volta na Harley-Davidson se convertían no centro dos meus ollos, como se o rostro de Carlos, que eu non podía ver desde a miña posición na parte de atrás da moto, se reflictise nelas e me devolvesen a imaxe firme da súa mandíbula, o poderío muscular do seu pescozo e aquela boca transparente, chea de inocencia, incapaz de mentir, incluso cando permanecía en silencio e soamente parecía estar pensando.

Carlos Casares

9/3/08

Plaza Garibaldi

En el D.F., en México D.F., hay una plaza que se llama la Plaza Garibaldi. Está llena de mariachis, ¿saben? Uno se puede parar en un semáforo, bajar la ventanilla, unos mariachis se acercan y uno le pide una de Jose Alfredo y te la cantan por un módico precio. Es un disparate, la verdad. Pero la música se vive de forma apasionada. Hay un garito en la Plaza Garibaldi que se llama Tenampa. Es difícil mantener una conversación entre el estruendo de muchos mariachis cantando cada uno la suya. Y hay un tipo que se pasea entre las mesas con una batería y te ofrece los bornes de la batería para que los agarres, para recibir una descarga. Se llaman toquecitos, y la gente paga por eso. México es todo un disparate maravilloso y es normal que uno se enamore de esa ciudad casi a primera vista.

Ismael Serrano

4/3/08

Yo creía


Quizá fuera la muerte de mi antiguo profesor la que disparó el mecanismo de autodestrucción, no sé cuánto tuvo que ver el dolor de ver morir a José Merlo con la saña destructiva de un yo contra yo, pero sí sé que fue más o menos a aquella edad cuando la cosa se recrudeció. Yo elegí, sin saber siquiera que lo había elegido (y lo peor de todo es que las elecciones inconscientes son las únicas sinceras), matarme a base de copas haciendo honor al viejo dicho que reza alicantina, borracha y fina; y lo cierto es que si hubiera seguido al ritmo que llevaba, quizá hubiera recorrido un camino parecido al de José Merlo, sólo que en lugar de palmarla de un enfisema habría sucumbido a una cirrosis.

Yo creía que me lo pasaba bien navegando en un turbulento mar de alcohol que amainaba las heridas sin llegar nunca a puerto; creía de verdad que había algo de heroico en levantarme sudando ginebra y lágrimas al lado de un bulto sin identificar, con la resaca como una piedra atada a una soga que colgara de mi cuello y que me arrastrara hacia el fondo de unas sábanas extrañas y arrugadas de las que no podía despegarme.

Yo creía de verdad que cada copa era como una llave mágica capaz de abrir celdas interiores desde donde liberar sentimientos y recuerdos suprimidos; creía de verdad encontrar confesores discretos y solidarios en los compañeros de borrachera y refugio en las barras de los bares en las que mis dolores no tendrían que rendir exámenes ni explicar sus orígenes.

Yo creía, lo creía de verdad, que estaba salvada si me jugaba a los bares mis últimas fichas, creía en las letras de los tangos y en la mística de las barras, y así me convertí en la loca que busca en el licor que aturda la curda que al final ponga el punto final, el último golpe de gracia y talento a la función, corriéndole un telón al corazón, casi sin esperar a oír el último aplauso.

Lucía Etxebarria

28/2/08

Rendición razonable

Fue entonces cuando invocó la ceguera voluntaria que le había salvado tantas veces, cuando era un niño aún, y después, la ilusión de inconsciencia que latía tras su constante amor por Teresa, la convicción del pasatiempo inocente que había salvaguardado de sí mismo, de su propia lucidez, la descabellada correspondencia sostenida en otros tiempos, la falsa impasibilidad maquillada de mezquina solidaridad de clase que le había permitido seguir queriendo a su madre cuando despidió a Merche porque se había quedado embarazada a sólo dos meses de las vacaciones de verano. Entonces, mientras la miraba bailar y se obligaba a no perder los nervios, intentó salvarla, quedarse con ella, pero se estaba haciendo viejo, y el frío que le impulsara a recuperarla era cada vez más intenso, y ya no había margen para una rendición razonable.

Almudena Grandes

25/2/08

Alguien a quien quise mucho

Hace un par de semanas vi a Miguel. Iba en un taxi camino de casa de Silvio, y él esperaba el disco verde para cruzar la calle. Le miré durante unos segundos buscando dentro de mí alguna de las cosas que había sentido por él en un tiempo que no era tan lejano. No encontré nada, salvo un ramalazo de decepción, un poco de rencor y, por consiguiente, cierta dosis de la amargura que nos deja el tiempo que consideramos perdido.

No es eso lo que quiero sentir por Miguel. La próxima vez que le vea, me gustaría que hiciese en mí el mismo efecto que cualquier extraño. Llegará un día en el que no recuerde el color exacto de sus ojos, como hoy soy incapaz de recordar el tacto de su piel, y entonces sólo sentiré melancolía por todo lo que nos unió una vez y que no supimos conservar para siempre. Y dentro de muchos años, cuando yo tenga la edad de Silvio, quisiera que Miguel fuese un buen recuerdo distorsionado por la nostalgia, y pensar en él como alguien a quien quise mucho, que me hizo feliz durante un tiempo y que luego desapareció, como ocurre con buena parte de las personas y las cosas que nos hacen dichosos.

Marta Rivera de la Cruz

20/2/08

Sino

Yo era por entonces, en aquellos años de incertidumbre, una de esas estudiantes vagas y feúchas, siempre vestidas de negro, cuya única verdadera ocupación parecía consistir en contemplar las cosas desde fuera. El paso del tiempo había dado con mis huesos en la ciudad de la luz, donde, sea dicho de paso, conocí a muchos perdedores y a algún que otro famoso de economía poco saneada. Siempre he creído que nosotros, los tímidos, los desapercibidos, los pobres de espíritu, estamos destinados a presenciar en silencio la vida de los otros.

Cuando yo llegué, París había dejado de ser una fiesta para convertirse en un enorme y esplendoroso vertedero. Casi todos veníamos a París huyendo: huíamos de nuestros países como quien huye de una ciénaga, el camino embarrado y previsible trazado por nuestra abuela, la trampa de miel de los afectos familiares. Huíamos de nuestras posibles vidas. Esa terquedad se me antoja ahora un síntoma de indefectible inocencia, de vanidad, de ignorancia. Pues todos acabamos sabiendo más tarde o más temprano que la rebeldía no es más que una pataleta vana en nuestro camino hacia la tumba. Que nuestro sino nos perseguirá adonde quiera que vayamos, espectro tembloroso del desencanto. Todas las ciudades son la misma ciudad. No es fácil hacer borrón y cuenta nueva.

Blanca Riestra

17/2/08

Salir a flote


Pero la vida es dura, ya lo sé. Ya sé que no sirve de nada aguantar hasta quince bajo el agua, quedarse hasta veinte con los peces de colores. El mundo ahí arriba sigue respirando y las tablas de surf surcan la superficie con la más absoluta indiferencia, y los niños gritan y los veraneantes de todo el mundo continúan su marcha, de local en local, sin detenerse a considerar la capacidad de mis pulmones, y al final da mucha pena perder un minuto más allí abajo, y la cabeza estalla por salir a flote y ver lo que pasa.

Luisa Castro

9/2/08

De novios y de libros

Me he acostumbrado a ordenar los recuerdos de mi vida con un cómputo de novios y de libros. Las diversas parejas que he tenido y las obras que he publicado son los mojones que marcan mi memoria, convirtiendo el informe barullo del tiempo en algo organizado. «Ah, aquel viaje a Japón debió de ser en la época en la que estaba con J., poco después de escribir Te trataré como a una reina», me digo, e inmediatamente las reminiscencias de aquel período, las desgastadas pizcas del pasado, parecen colocarse en su lugar.

Rosa Montero

3/2/08

Rezas

Rezas para que esta sea tu vida sin ti. Rezas para que las niñas quieran a esta mujer que se llama como tú y para que tu marido acabe por quererla. Para que vivan en la casa de al lado y las niñas usen el remolque para jugar a las muñecas y apenas recuerden a su madre que dormía de día y las llevaba de viaje en canoa. Rezas para que tengan momentos de felicidad tan intensos que cualquier pena parezca pequeña a su lado. Rezas a no sabes qué ni a quién, pero rezas, y no sientes nostalgia por la vida que no tendrás, porque para entonces habrás muerto, y los muertos no sienten nada. Ni siquiera nostalgia.
Isabel Coixet

31/1/08

Falso destino

¿Adónde ir si de la noche a la mañana se desea alcanzar lo incomparable, lo fabulosamente diverso? La cosa estaba clara. ¿Qué estaba haciendo allí? Se había equivocado. Era allí abajo adonde había querido ir. Y no tardó en enmendar el falso destino. A la semana y media de su llegada a la isla, entre las brumas matinales, una veloz lancha lo condujo, a él con su equipaje, al puerto militar, donde sólo bajó a tierra para subir acto seguido a una pasarela y pisar la húmeda cubierta de un barco que se disponía a zarpar rumbo a Venecia.

Thomas Mann

20/1/08

Basta de príncipe azul


Tengo una amiga que ha elaborado una original teoría sobre las relaciones personales. Según ella, cometemos el error de intentar encontrar nuestra media naranja –quimera cada vez más inalcanzable–, cuando lo que debemos procurarnos es el monstruo de Frankenstein. Dicho así suena friky, pero la teoría tiene su punto, de modo que voy a intentar explicarla. Mi amiga dice que nos pasamos la vida soñando con la persona perfecta, esa con la que compartir todas las parcelas de la vida: el sexo, las aficiones, los proyectos, que además sea nuestra mejor consejera y nuestro paño de lágrimas cuando vengan mal dadas. Lo malo es que tal dechado de virtudes no existe; pues el que es una fiera en la cama es también un ojo alegre que corre detrás de todo lo que lleve faldas. Aquel que parece nuestra alma gemela, porque le gusta tanto Oscar Wilde como Pink Floyd, es un vago de siete suelas al que le molesta nuestro éxito profesional. Y, por fin, el santo que aguanta todas nuestras neuras, nos ama con indesmayable pasión y mataría por nosotros es más aburrido que chupar un clavo y soporífero como el Valium. «Seamos realistas –dice mi amiga–, esto es lo que hay y más vale no hacerse películas. Para colmo, resulta que la mayoría de nosotras/os (la teoría es válida para hombres y mujeres) sabe todo esto de sobra, pero ahí es donde entra el `engaño Stendhal´.» «¿Y qué es eso?», pregunté yo, interesadísima. «Ya sabes», respondió mi amiga. «La inefable teoría de la cristalización. Dice Stendhal que cuando uno se enamora, se produce el mismo fenómeno que cuando se arroja un tronco seco a una mina de sal. La sal recama el tronco de bellísimos cristales que nos hacen ver como una joya lo que no es más que una rama vieja. Pasado el enamoramiento, se acaba la cristalización y volvemos a ver el tronco tal como es. En otras palabras, la persona que amamos no tiene ni la mitad de las virtudes que le atribuimos y más pronto que tarde empiezan a notarse sus carencias. A medida que nos vamos haciendo viejos, afortunadamente, seguimos enamorándonos, pero ya sabemos que todo es una idealización, de modo que cada vez resulta más difícil encontrar alguien potable. Entonces es cuando se hace necesario recurrir al doctor Frankestein.» Acto seguido, me explicó que la solución es crear un monstruo con trozos de personas hasta formar la media naranja ideal. «Evidentemente no se trata de descuartizar a nadie, sino de procurarse una persona como pareja estable, otra con quien compartir inquietudes intelectuales, una tercera para las confidencias más íntimas y hasta una cuarta para la cama, si es menester. Además, con este sistema se acabaron las neuras existenciales porque lo que no te da uno te lo da otro, ¿comprendes?»

Carmen Posadas

14/1/08

Más sensibles

Las mujeres se han conquistado a sí mismas como sujetos sociales, produciendo una importante ruptura respecto a su rol exclusivo. Las posibilidades de elección se han ampliado para ellas, consecuentemente con la igualdad de oportunidades. No obstante, por el momento no hay tabla rasa. En la vida afectiva las mujeres son más sensibles que los hombres a las palabras, a las demostraciones de amor con sus decepciones y frustraciones. Como dice Charo Altable «las mujeres, cuando hablamos de amor, hablamos de nosotras mismas aun no queriendo, y los hombres no hablan de ellos aun no queriendo». También fantasean más y acusan a los hombres de protegerse, de huir, de no entregarse plenamente, aunque hay quien afirma que parte de la razón por la que se contempla a los hombres como menos amorosos es debido a que su comportamiento se mide por un rasero femenino.

Carmen Alborch

10/1/08

¡Pierde la cabeza!

El amor es pasión, obsesión, no poder vivir sin alguien. ¡Pierde la cabeza! Encuentra a alguien a quien amar como loca y que te ame de igual manera. ¿Cómo encontrarlo?, pues... olvida el intelecto y escucha al corazón. No oigo ese corazón. Porque lo cierto es que vivir sin eso no tiene sentido alguno. Llegar a viejo sin haberse enamorado de verdad, en fin, es como no haber vivido. Tienes que intentarlo porque si no lo intentas, no habrás vivido.

¿Conoces a Joe Black?

7/1/08

Los años

-Ya sé. Se tenga la edad que se tenga, los años siempre son un estorbo.

Luisa se enfrentó a los ojos eternos de Cósimo Herrera.
-Al contrario. Son la excusa que usamos para no hacer aquellas cosas de las que
no somos capaces.

Demasiado tarde él la entendió. De un sólo golpe lo comprendió todo. Luisa seguía frente a él, mirándole con el aire un poco suficiente del que sabe que ya lo tiene todo perdido, con el aire del que ya no puede esperar nada y aguarda sólo una reacción porque es demasiado tarde para obtener una respuesta. Él la miró también, buscando la forma de salir del desconcierto, y cada vez la veía con más claridad en sus preguntas, en sus dudas, en la plenitud dolorosa y lejana de sus veinte años. Hubiera querido decir algo, pero se dio cuenta de que ella no quería que dijera nada. Siguió mirándola mucho tiempo, vio como los ojos de Luisa se llenaban de lágrimas y cómo ella no hacía nada por disimular que estaba llorando. Hubiera podido quedarse contra la pared, hubiera podido marcharse balbuceando un adiós y dejarle, solo y perplejo, con sus libros y las cuatro paredes de aquella casa, pero Luisa del Amo no lo hizo. Se quedó allí, rindiéndole sus armas, haciéndole testigo de aquella claudicación en la hora final, revelando el secreto que había guardado para sí todos aquellos meses, y Cósimo Herrera descubrió entonces cuánto valor había en cada una de aquellas lágrimas.

Marta Rivera de la Cruz